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Memocracia!


Capa do livro "Antologia do Humor Russo (1823-2014), editora 34, 2018

Capa do livro "Antologia do Humor Russo (1823-2014), Editora 34, 2018

Não faz muito tempo, você certamente recorda-se, estávamos em polvorosa diante da ascensão eleitoral da extrema direita tupiniquim. Debatíamos os contornos autoritários, monocráticos e sufocantes que este governo, mesmo eleito pelo sufrágio popular, poderia adotar. Temíamos pela democracia, liberal, frágil, incompleta, repleta de defeitos, mas ainda uma democracia.

Enquanto conjecturávamos o sexo dos anjos, no entanto, nos passava ao largo que, ao menos nas redes sociais, o nosso sistema político há muito havia sido suplantado. Na dimensão virtual do brasileiro médio, a democracia foi inteiramente comutada pela MEMOCRACIA: o reino dos memes, dos chistes, da zoeira.

Mais que uma forma organizacional coletiva, mais que um guia de condutas e comportamentos, a MEMOCRACIA edifica-se enquanto linguagem. Não importa o assunto, a sua importância ou gravidade, para tudo é possível se comunicar através dos memes.

Tudo é ridicularizável, eis a regra número um para toda uma geração de jovens e adultos que mesmo gozando de plena capacidade intelectual, optam por estabelecer uma via única de comunicação, uma resposta padrão e robotizada para assuntos e situações diversas.

Ridicularizar e transformar tudo e todos em cenários burlescos e caricaturais é uma confortável válvula de escape para uma geração que parece cada vez menos dotada de paciência e interesse para os problemas e desafios que as vidas, coletiva e individual, nos impõem.

Sem “saco” – sem tempo, irmão! – para questões que não cabem em um meme ou em uma esquete do Porta dos Fundos, assistimos a ascensão de uma linhagem de brasileiros idiotizados, infantilizados, totalmente despreparados para as adversidades da vida adulta e incapazes de contribuir para um projeto de nação.

Na MEMOCRACIA, vimos surgir uma prole que idolatra e adota como modelo comportamental figuras da estirpe do Danilo Gentilli, sujeito que profere um sem número de ofensas e ataques travestidos sob o legitimador argumento cômico. Vimos a maior emissora televisiva do país inadmissivelmente constranger dois profissionais e suas famílias, levando a cabo o resultado de uma enquete totalmente alicerçada na “zoeira”, tendo total ciência de que é essa zoeira sem limites, que passa por cima da honra e orgulho de indivíduos, que confere audiência e lucro.

Em tempo, este não é um manifesto contra os memes, o riso e a piada. Também gosto, também compartilho, também rio. Humor é fundamental, estupidez, não!

Pedro Del Mar

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